Carsten e Luce começam o dia junto à loja BUGA. A turista alemã vai experimentando as bicicletas de uso partilhado de Aveiro, enquanto o marido formaliza o pedido de empréstimo ao balcão. De férias em Portugal, visitaram o Porto a pedalar e tencionam fazer o mesmo, no dia seguinte, em Lisboa. Naturais de Bremen, não usam a bicicleta nas deslocações diárias, mas em férias gostam de o fazer.
BUGA significa Bicicleta de Utilização Gratuita de Aveiro, e manteve a designação apesar de as bicicletas da nova geração, as BUGA2, terem passado a ser pagas em junho. As mais antigas, continuam a ser gratuitas e são as que o casal alemão vai usar na descoberta da cidade. Ainda há 75 bicicletas gratuitas em Aveiro, as agora batizadas BUGA1, a que se juntaram, numa fase inicial, 136 BUGA2 espalhadas por 21 docas.
Rogério Carlos, vice-presidente da autarquia e vereador com os pelouros de desporto, educação e gestão do espaço público, explica que a BUGA2 é um modelo mais recente, com sistema de GPS que permite avaliar a utilização em tempo real (o que não acontecia com a primeira versão).
Em três meses, foram realizadas mais de 6500 viagens com as novas bicicletas. “Há um maior registo de utilizações pontuais" referiu o autarca, lembrando que a BUGA2 entrou em funcionamento em pleno verão. No entanto, acredita que "a BUGA2 já entrou na rotina e com o arranque do ano letivo a utilização regular vai aumentar mais”. O sistema, que está em “fase de teste”, e tem capacidade para ser ampliado para 204 velocípedes. A médio e longo prazo, poderá ser alargado a todo o município.
O tarifário é diferente para utilizadores pontuais e regulares (€0,35 até uma hora para os regulares, €2 para os utentes não fidelizados). O vereador explica que “a BUGA1 estava centrada num espaço no centro da cidade, a BUGA2 pode ser recolhida e deixada em 20 docas espalhadas por toda a cidade e freguesias mais próximas”.
Encontramos Joana Ivónia, designer e fundadora da Ciclaveiro, associação que promove a mobilidade suave, a prender a sua bicicleta num parque da Praça da República, no centro da cidade. Mas ao contrário do casal alemão, que não poupa elogios à iniciativa da autarquia, aponta várias lacunas ao sistema de bicicletas partilhadas. O problema maior nem é o fim da gratuitidade – embora “para se incentivar o uso este devesse ser tendencialmente gratuito”, refere. Critica o horário de funcionamento (que termina às 20.00) e o número insuficiente de docas para estacionar. As BUGAS “estão a servir uma zona turística”, argumenta.
Rogério Carlos diz que o horário da BUGA2 é mais alargado do que a sua predecessora (termina às 20.00, quando antes era até às 17.00) e que o início do ano letivo vai ser um momento importante para avaliar todo o sistema. “É uma bicicleta democrática, é para toda a gente”, diz o autarca, lembrando que foi também criada uma app. Não se compromete com o alargamento de horário ou com o funcionamento 24 horas por dia, como acontece com a Gira, em Lisboa, dizendo no entanto que “este não é um modelo fechado”.
Antevê uma solução para quem se desloque de ferry até São Jacinto, onde é permitido levar as BUGAS, mas não há docas para estacionar: “é algo que está pensado e vai ser uma realidade”.
Autarquia e Cicloria não têm dados globais de utilizadores de bicicleta em Aveiro, um município tradicionalmente associado este modo de locomoção. Ambas têm a “perceção” de que está a aumentar. O vereador diz que com a pandemia e o encerramento dos ginásios muitas pessoas optaram pela bicicleta também para manter a forma física. Joana Ivónia nota um aumento da procura de pedidos na Casa da Bicicleta, gerida pela Ciclaveiro, onde há uma oficina comunitária.
“Precisamos de tirar as pessoas do carro e pô-las a andar de bicicleta”, diz a designer que todos os dias pedala com o filho de quatro anos ao lado, na sua pequena bicicleta.