“É único, descer a avenida. As lágrimas aparecem…” Até aos 27 anos, Helena Quesado foi mordoma nas Festas d’Agonia. Passaram-se três décadas, uma vida ligada a esta herança, que passa agora à filha Daniela. A jovem, de 14 anos, estreou-se no desfile da Mordomia, momento alto das festas de Viana do Castelo, no ano passado. As duas estão de saiote, camisa, meias de renda e chinelos na sala de ensaios do grupo folclórico de Santa Marta de Portuzelo, freguesia a poucos quilómetros da cidade. Também Daniela Sousa, de 32 anos, e Carolina Pereira, de 17, se preparam para vestir o traje. O que se segue é um doce bailado de gestos e de feminilidade.
Durante, talvez, meia hora as quatro mulheres vestem-se com os fatos tradicionais, impecavelmente preservados, com os tecidos de lã, linho ou algodão. O corpo jovem de Carolina vai transportar o pesado fato de mordoma, fazenda ricamente bordada com lantejoulas e vidrilhos, o de Daniela Sousa o de lavradeira rica (final do século XIX, início do século XX). Em movimentos lentos, Helena veste a filha com o traje de lavradeira, peça a peça, saiotes (vários, para fazer uma anca farta), saia de lã tecida em tear, camisa de linho bordada, colete, o lenço traçado sobre o peito. A jovem recebe no corpo as peças, uma a uma. É uma boneca, mas não é - é uma mulher a perpetuar este legado.