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As expressões populares com Braga são “mais velhas que a Sé de Braga” e põem o país a “ver Braga por um canudo”

Braga inspira um conjunto de expressões de uso corrente de norte a sul do país. Qual a sua origem e em que circunstância galgaram as fronteiras do Minho? As respostas a estas dúvidas implicam uma viagem ao passado da “cidade dos arcebispos”

O santuário do Bom Jesus é um dos ícones que acentua o epíteto de Braga como “cidade dos arcebispos”
John Harper / Getty Images

No quotidiano português, em ocasiões de aperto, é frequente o recurso a expressões com o topónimo Braga para reagir à situação. Se a alguém for dirigido um “és de Braga!”, o visado sabe que se esqueceu de fazer algo. Se não alcançou algo a que se propôs, diz que ficou a “ver Braga por um canudo”. E ninguém fica impávido se for mandado “abaixo de Braga”.

Seja-se oriundo do norte, centro, sul ou ilhas, dificilmente haverá alguém que não conheça o significado destas expressões e até as use no seu dia a dia.

Em entrevista ao Expresso, o linguista João Carlos Brito, autor do “Dicionário de Calão do Minho” (2019), aventa uma explicação para o facto de estas expressões, mais do que serem típicas de Braga, terem galgado as fronteiras minhotas e conquistado o resto do país.

“Há que perceber a importância de Braga num passado não muito distante. Braga era a cidade mais importante em termos litúrgicos e era para onde se deslocavam praticamente todos os filhos mais velhos das famílias mais humildes que tinham algumas possibilidades”, diz este professor-bibliotecário no agrupamento de escolas de Gondomar Nº 1. “A hipótese de ascender socialmente era pôr o filho mais velho a estudar para padre. Então iam para Braga.”

Bracara Augusta, a “Roma portuguesa”

Em termos administrativos, Braga é a cidade mais antiga de Portugal. Fundada durante o reinado do imperador Augusto (27 a.C. - 14 d.C.), Bracara Augusta tinha o estatuto de capital de província no Império Romano.

Igualmente, com mais de oito séculos de existência, a arquidiocese de Braga é a mais antiga do país. Algumas instituições religiosas do município são mesmo anteriores à nacionalidade, como a Sé de Braga, solenemente consagrada à Virgem Maria a 28 de agosto de 1089.

No léxico português, todo esse legado de prestígio sobrevive através dos epítetos “Roma portuguesa” e “cidade dos arcebispos”. E sustenta outra expressão muito popular no país: “mais velho que a Sé de Braga”, que qualifica, normalmente num tom hiperbólico, algo de extremamente velho.

Mas sendo a Sé de Braga a mais antiga do país não é, curiosamente, a estrutura religiosa mais velha de Braga já que datam de 1071 e 1077 as primeiras referências documentais ao Mosteiro de Tibães.