Otílio Varela segue à risca a instrução da indumentária prática que lhe facilita os movimentos de canhoto, numa máquina que foi feita para destros. “Just Do It”, pode ler-se na t-shirt preta que tem vestida, e Otílio Varela prossegue sem se precipitar, com a concentração que trabalhar o vidro exige. Nas pontas dos dedos, tubos transparentes, delicados, que vai rodando e depois doando ao corte, processo para o qual é preciso “conhecer a chama”; domá-la, em vez de a provocar. É meio-dia e meia hora, hora de parar para o almoço, juntamente com os colegas que abandonam a fábrica por instantes. A rotina é, porém, seguida por Otílio Varela há menos tempo do que pelos funcionários que há mais de três décadas operam o vidro naquela nave.
Mas 12 anos a trabalhar na Normax, na Marinha Grande, já são obra feita. Muitos são de “escola”. Se um médico demora seis anos a especializar-se cirurgião, um vidreiro pode precisar de entre cinco e dez anos para dominar o ofício. E nem todos têm paciência para aguentar todo o processo. Otílio Varela, de 35 anos, foi a primeira pessoa não portuguesa contratada para a fábrica. “Vim de Cabo Verde, para fazer um curso profissional de Gestão de Empresas. Este é o meu primeiro trabalho e aprendi a fazer tudo aqui. Sempre gostei deste trabalho. O vidro é muito importante para esta região."
“Não é um trabalho fácil, mas também não é pesado”, admite Júlio Neto, a pessoa que trabalha há mais tempo na fábrica de vidro científico Normax. Tem 58 anos, e está na empresa há 37. Desde então, tem visto muitos jovens passar por ali, a fugir, ao fim de alguns meses, das “máquinas melindrosas”. Da fabricação e esterilização à distribuição, no armazém, Júlio Neto já ocupou praticamente todas as funções da empresa.