Expresso 50 anos

João Vieira Pereira: “Portugal é um dos melhores sítios para se fazer jornalismo"

Conversa sobre Liberdade de Imprensa juntou um académico e um jornalista ao fim de tarde no Mercado de Sant’Ana, em Leiria

NUNO BOTELHO

Marina Almeida

Coube ao diretor do Expresso abrir a conversa sobre liberdade de imprensa esta quinta-feira no centro cultural do Mercado de Sant’Ana, em Leiria: “Portugal é um dos melhores sítios do mundo para se fazer jornalismo”, disse João Vieira Pereira. “Vivemos num paraíso da liberdade de imprensa”, referiu, apontando, no entanto, algumas ameaças: a “saúde financeira dos órgãos de comunicação social” e as deep fake news, a manipulação de vídeos e imagens com alta qualidade, criando informação falsa.

Foi Rosa Pedrosa, representante da Comissão Executiva o Cinquentenário do 25 de Abril, em Leiria, quem moderou a conversa e lançou o debate, questionando o painel sobre os grandes desafios à liberdade de imprensa. Aludindo à questão financeira, Vieira Pereira precisou que há jornais que estão constantemente a dar prejuízo e não é claro quem são os seus proprietários: “é um ataque à liberdade de imprensa que vem de dentro e é perigoso”.

Marco Gomes, coordenador do mestrado Media e Comunicação da Escola Superior de Ciências Sociais e Educação de Leiria, trouxe à conversa a perspetiva histórica, lembrando que antes do 25 de Abril de 1974 já havia “fermentos que procuravam a verdade, mais disruptivos”, dando como exemplo o Expresso, mas também o República ou o Diário de Notícias. No tempo presente, o docente reforçou a importância das competências sociais e da escola, por um lado, e dos jornalistas prosseguirem o seu trabalho de reportagem e contextualização: “falta a historiografia do instante”.

Ao longo de uma hora, a conversa seguiu vários caminhos, passando pela imprensa regional, pela inteligência artificial, sempre com a liberdade de imprensa na mira. O diretor do Expresso admitiu a possibilidade de usar modelos de linguagem para assegurar algum trabalho, específico, da redação, sem pôr em causa postos de trabalho e libertando os jornalistas para fazer trabalho no terreno. Cético em relação ao uso da tecnologia – “não são os gigas e os teras que fazem com que as pessoas consigam fazer mais coisas” -, Marco Gomes referiu que o jornalismo “é um campo de saber fazer” e que o chat GPT ameaça o pensamento crítico.