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50 anos do 25 de Abril

“Não há só um 25 de Abril”: Sérgio estava no Porto “a levar porrada da PSP” e Rui em Paris sem saber “para que lado ia cair a revolução”

Sérgio Valente foi preso e torturado pela PIDE. Não esquece os murros na garganta e as palavras de um agente da polícia política: “Eu mato este filho da p… deste comunista”. Mas o fotógrafo e antifascista estava mais vivo do que nunca no 25 de Abril, imparável de um lado para o outro nas ruas do Porto. Rui Mendes estava em Paris e sentiu a revolução a mais de 1500 quilómetros de distância. “Eu não vivi o 25 de Abril em Portugal, eu vivi outro 25 de Abril em França, onde estavam os emigrantes”, conta ao Expresso

Rui Mendes estava em Paris e fotografou a revolução da perspetiva da comunidade emigrante portuguesa. Sérgio Valente registou o triunfo da revolução na Invicta
Ricardo Castelo\NFACTOS

Onde é que estava no 25 de Abril? “Estava a levar porrada da PSP na Avenida dos Aliados”, atira Sérgio Valente sem hesitar, um antifascista que, na altura, tinha 32 anos. A revolução triunfou e o fotógrafo ativista ganhou três pontos bem enquadrados na testa. “Um polícia mandou-me uma bastonada bem dada. Fui levado para a Cruz Vermelha, suturaram-me o ferimento e puseram-me um penso. Muita gente achava que eu andava com uma boina na cabeça para imitar o Che Guevara, mas era só para tapar o buraco na testa”, conta, entre risos, ao Expresso.

“Não há só um 25 de Abril”, afirma Rui Mendes. E o dele foi vivido a mais de 1500 quilómetros de distância, quando tinha apenas 19 anos. “Fui para Paris em 1971 para fugir à guerra colonial”, revela o fotógrafo, para quem “a revolução não foi logo muito evidente” entre a comunidade portuguesa em França. “A informação não chegava. A imprensa francesa pouca importância dava ao que se passava em Portugal”, salienta.