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50 anos do 25 de Abril

O misterioso mapa do 25 de Abril

Numa folha de papel vegetal estão detalhados os percursos, nomes e contactos de quem alinhava na revolução. O mapa foi usado para preparar o Dia D, seguindo à risca o Plano de Operações de Otelo. Mas Otelo nunca o viu. E ninguém sabe quem o fez. Vai agora ser entregue à Torre do Tombo. Quando se assinalam os 50 anos do 25 de Abril, o Expresso republica esta reportagem, originalmente publicada em 2019, por altura do 45.º aniversário da Revolução
Otelo Saraiva de Carvalho no primeiro dia que viu o mapa da Revolução
António Pedro Ferreira

Durante décadas, esteve perdido numa estante de livros na casa de António Marques Júnior, em Lisboa. Há três anos, a viúva do mais jovem dos membros do conselho da revolução, que faleceu em 2012, encontrou-o por mero acaso. “Andava à procura de um livro do Fidel Castro, em que este lhe fez uma extensa e calorosa dedicatória”, explica Luísa Marques Júnior. O livro fora oferecido pelo líder cubano no ‘verão quente’ de 1975, quando o ainda tenente integrou a comitiva do coronel Otelo Saraiva de Carvalho numa viagem a Cuba. “Percorri todas as estantes e armários do António, não encontrei o livro, mas em compensação saltou-me um envelope. No interior estava o mapa do 25 de Abril.”

Com a dimensão de 85x65cm, foi feito e anotado à mão numa folha de papel vegetal, destinada a ser justaposta num mapa das estradas de Portugal. Nela estão assinaladas, de Norte a Sul, todas as unidades — mais de 30 — que poderiam participar na revolução, com indicação do nome e contacto telefónico de oficiais que, em cada uma, alinhariam com o movimento dos capitães. Mesmo nos regimentos considerados inimigos, fiéis ao regime, estão identificados os militares favoráveis à causa e que seriam ativados em caso de necessidade.